Como modernizar o discurso do legislativo?
Comunicação pública na prática
Ale Staudt
5/7/20254 min read


Precisa fazer dancinha para engajar nas redes sociais?
Ou será que é possível falar de temas como orçamento público, fiscalização do poder e projetos de lei de forma acessível, estratégica e próxima das pessoas?
A pergunta pode parecer provocativa, mas reflete uma realidade enfrentada por quem trabalha com comunicação pública, especialmente no legislativo, já que o papel do parlamento inclui um jurisdiquês infindável. As redes sociais mudaram a forma como os cidadãos acompanham o poder público. A imagem de um vereador ou deputado hoje se forma tanto pelo conteúdo publicado nas redes quanto pelas ações institucionais. É nesse contexto que a linguagem precisa evoluir.
A pergunta central é simples: como modernizar o discurso do legislativo sem abrir mão da seriedade e da credibilidade institucional?
Redes sociais e a nova percepção política
A comunicação pública não pode ignorar o ambiente digital. Se o conteúdo legislativo continua preso a pareceres técnicos e linguagem jurídica, ele se distancia da população. E quando a mensagem não chega, o risco é claro: a atuação política perde visibilidade, valor e apoio.
Hoje, vereadores e deputados precisam equilibrar dois universos. De um lado, o compromisso com o conteúdo técnico e jurídico de legislador. De outro, a necessidade de comunicar com clareza, objetividade e empatia. É nesse equilíbrio que a confiança do cidadão se fortalece. Porque afinal de contas, o cidadão quer mesmo é saber em que cada um dos atos do legislativo afeta sua vida no dia-a-dia.
E nessa de estar mais próximo da população, vale o alerta: na tentativa de humanizar suas imagens, muitos políticos vêm errando a mão. Vídeos super informais, piadas forçadas, exageros estéticos ou performances fora de contexto podem até gerar curtidas, mas não constroem autoridade. Pelo contrário, quebram a coerência entre a imagem pública e a identidade pessoal ou institucional.
Redes sociais precisam gerar representatividade, não desconexão. O conteúdo pode, e deve ser leve, acessível e próximo. Mas isso não significa forçar informalidade ou imitar formatos que não combinam com o perfil de quem comunica. Humanizar não é teatralizar. É ser estratégico sem abrir mão da essência.
Experiências que mostram novos caminhos
Algumas instituições já entenderam que a linguagem do legislativo precisa se atualizar. E estão colhendo os resultados de uma comunicação mais próxima e consistente.
Câmara Municipal de Maringá
A Câmara de Maringá é um exemplo de reposicionamento institucional. Os canais oficiais passaram a destacar não apenas o rito legislativo, mas também os impactos reais das decisões na vida da população. A linguagem se tornou mais acessível, os conteúdos em vídeo ganharam espaço e as redes sociais viraram um ponto de conexão direta com o cidadão. A estratégia tem fortalecido a imagem da Câmara como instituição atuante, moderna e relevante.
Assembleia Legislativa de São Paulo
A Alesp investe em transmissões ao vivo, reels explicativos e ações digitais voltadas à transparência. O conteúdo é produzido com foco em educação política e participação cidadã, explicando o funcionamento das comissões e os efeitos de projetos de lei. O resultado é mais engajamento e maior compreensão da população sobre o papel dos deputados estaduais.
Assembleia Legislativa de Santa Catarina
A Alesc aposta em regionalização e linguagem segmentada. Programas de rádio, podcasts e newsletters digitais são usados para alcançar diferentes públicos no estado. A comunicação é pensada para atender perfis diversos, sempre com clareza e foco no serviço prestado.
Assembleia Legislativa do Paraná
A Alep tem ampliado sua presença digital com foco na prestação de contas e na cobertura em tempo real das sessões. Os conteúdos mostram como o dinheiro público é aplicado, quais projetos estão em debate e quais são os impactos diretos das decisões. Isso contribui para uma imagem mais transparente e comprometida com o interesse público.
Outras Câmaras Municipais
Cidades como Joinville, Londrina e Franca também vêm modernizando seus canais. Com foco em vídeo, séries informativas e ações específicas em datas de grande repercussão, essas câmaras vêm transformando a forma como se comunicam com seus eleitores.
Mas e na política, como se faz?
Legisladores que encontraram o tom certo
Alguns parlamentares vêm conseguindo equilibrar posicionamento político, autenticidade e linguagem digital de forma eficiente.
Tábata Amaral combina profundidade técnica com sensibilidade social. Seus conteúdos são claros, acessíveis e sustentados por dados, sem perder o vínculo emocional com a pauta da educação e da equidade. Ela consegue transitar bem entre as redes e os plenários, mantendo coerência entre o que diz e o que publica.
Nikolas Ferreira, com perfil completamente diferente, domina o uso das redes para fortalecer sua base ideológica. Seus vídeos têm alto engajamento, linguagem direta e forte apelo emocional. Mesmo com alto teor polarizador, a consistência de sua comunicação gera reconhecimento entre seus eleitores.
Erika Hilton é outro exemplo de parlamentar que vem utilizando a comunicação digital de forma estratégica. Ela conecta sua atuação legislativa à luta por direitos e inclusão, com uma narrativa que humaniza e politiza ao mesmo tempo. Suas redes combinam bastidores, conteúdos informativos e engajamento com temas sociais.
O ponto em comum entre esses três parlamentares é claro: todos têm identidade. A linguagem que usam está alinhada com sua personalidade, suas causas e seus públicos. E é isso que gera conexão verdadeira.
Estratégia, não improviso
Não existe fórmula mágica. Cada realidade exige uma abordagem própria. Mas alguns princípios são fundamentais para quem quer transformar a comunicação legislativa:
Adaptar o discurso sem perder a seriedade
Usar vídeos e linguagem audiovisual como canais de aproximação
Fortalecer a identidade institucional com tom acessível
Conectar os temas legislativos com a vida das pessoas
Investir em escuta ativa, planejamento editorial e coerência
Humanizar o conteúdo com autenticidade e propósito, sem forçar formatos ou adotar estilos que não refletem a personalidade do político
Conclusão
Modernizar o discurso do legislativo é, acima de tudo, um exercício de respeito à população. É assumir o compromisso de tornar compreensível o que é técnico. De mostrar, com clareza, o que o vereador ou o deputado faz, por que faz, e como isso impacta diretamente o cidadão.
Se você trabalha na comunicação pública, especialmente em casas legislativas, vale refletir. O conteúdo que você produz está apenas registrando processos ou está verdadeiramente conectando o legislativo à população?
A resposta a essa pergunta pode ser o primeiro passo para uma comunicação mais estratégica, mais humana e mais eficaz.
